Tuesday, May 17, 2011

Como aprender a desamar



Costuma dizer-se que o amor é o principal motor das artes e dos grandes feitos dos homens, desde guerras a descobertas e conquistas.
Pois bem, tenho cá para mim que o desamor joga um papel tanto ou mais importante. Desamor é o deixar de amar. E, por mais doloroso ou penoso que possa ser, muitas das vezes, não deixa de ser importante e, como tal, decidi-me a escrever umas palavras dedicadas a este capítulo das nossas vidas. Sem mais demoras, como, então, aprender a desamar…

1- Toda a perda importante necessita de um luto.
Tenham sempre isto bem presente. A morte, seja ela em que forma for e de quem ou do que for, necessita de um período de luto. A tradição de as pessoas se vestirem de preto após falecimento de alguém importante pretende mostrar de forma simbólica a toda a gente que se está a passar por um período de dor e perda. É um daqueles actos simbólicos que faz mais sentido quando entendemos a razão da sua existência. Para os falecimentos não existe este gesto simbólico do luto, mas existe um luto interior e pessoal que, não sendo exteriorizável não deixa de ser presente. Assim, quando uma relação acaba e sentes dor, não deves estranhá-la ou repudiá-la. Deves aceitá-la e compreendê-la como natural. Sabe que, tal como ela veio, há-de passar. Se vai demorar mais ou menos dependerá de como te vais comportar.

2- “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”
Vai doer. Desamar dói. Não há como não doer. Não negues a dor mas não te entregues a ela. A doer acaba sendo viciante quando te entregas a ela. Não faças rituais de sofrimento, como ouvir aquela música que te lembra da pessoa ou reviver fotos e vídeos de vocês os dois. Isso só fará com que entres numa espiral negativa.
Para combater a dor é preciso ter coragem. Coragem de reagir e de recuperar. Sem pressa mas sem pausa.
Dor é um momento. Sofrimento é uma fase. Dor não depende de ti. Sofrimento sim.

3- Não te isoles…
“Quando a melancolia da noite e sua solidão nos prendem, pensar nos nossos amigos enche-nos o peito de uma felicidade luminosa.”
Na vida, por vezes, nada melhor que substituir preocupações por ocupações.
Chama os teus amigos e as pessoas que gostam de ti e te fazem bem. Não queiras ficar sozinho, por muito que te pareça melhor ou mais fácil. Os teus amigos e família são os que te conhecem melhor e te vão servir de muleta para recuperar pouco a pouco da queda emocional da perda.


4- “Forgive but don’t forget.”
Perdoar. Esquecer. Duas palavras bem diferentes. Perdoa, mas não esqueças.
Perdoar passa por aceitar e assimilar o que se passou. Por um processo de digestão emocional e um virar de página que deve ser feito sem que a página seja rasgada. Esquecer alguém que amaste não é possível; pelo menos não logo após a sua perda. Pode até haver a ilusão, mas será tão falsa como dolorosa porque a presença da tal pessoa voltará quando menos esperares e estiveres preparado.
A forma correcta é tornares a lembrança da pessoa nisso mesmo. Numa lembrança. Passar para o passado. Aceitar que acabou e, na altura própria, deves virar a página e ver a pessoa como memória e não como ferida. Não esqueças nunca do que te acontece de importante. É daí que se cresce e se aprende.
Perdoa-te a ti. Perdoa-te ao outro. Como precisares. Como te fizer bem…

5- Não te dês prazos.
Tem presente que os sentimentos não se medem em tempo, mas em intensidade.
No que diz respeito a sentimentos não importam dias, minutos ou horas. Cada pessoa tem o seu ritmo e a sua forma de digerir.
Segue o teu ritmo. Caminhando sempre. Sem parar. Mas sem precisar correr. O que importa é que os passos sejam sólidos e no sentido certo.

6- O caminho faz-se caminhando…
“Quando se esta perdido e sem saber para onde ir, o pior erro é não fazer nada.”
Caminha. Não tenhas medo de dar passos. Recupera. Luta. Reage. Não te entregues à depressão. Não montes grandes projectos de recuperação. Dá um passo de cada vez. Mas dá o tal passo!
Mesmo que depois vejas que foi um passo errado acredita. Pior seria não ter dado nenhum passo.

7- Não procures sósias
Não procures sósias. Não existem substitutos para a pessoa que perdeste. Não procures vinganças. Não te envolvas com alguém para provocar ciúme ou arrependimento na pessoa que perdeste. Só te sentirás mal por magoares uma pessoa nova e te magoares a ti próprio.
Cada pessoa é uma única. Não existe uma fórmula de substituição ou troca directa.

8- Na teoria é fácil…?
“Não há nada mais prático do que uma boa teoria.”
Quando desamamos tendemos a perder a noção da razão e do sentido das coisas. Mesmo daquelas que já sabemos ou sabíamos. É como se fosse um processo amnésico. Paralisa a nossa mente e ficamos imersos num marasmo.
É aí que os amigos, família e boas teorias entram… para te lembrar de qual o caminho correcto.


9- Ama-te a ti mesmo!
“Amar-se a si próprio é o princípio de um romance que dura a vida inteira.”
A base de toda a recuperação deve ser o amor próprio. Se já o tens agarra-te a ele. Se não o tens resgata-o.
Só estando bem contigo podes estar bem e fazer bem aos outros.
Só o amor próprio te irá garantir sustentabilidade e solidez em momentos de perdição.
Tu sozinho deves ser suficiente. 1 inteiro. Um casal deve ser dois que se procuram e desejam e não um só. Não deves ficar a metade quando perdes o amado. Deves ser um, ainda. Triste e magoado mas um. Ama-te! Aceita-te! Perdoa-te!

10- Não penses que nunca mais vais querer amar…
Vais pensar. Por muito que te diga para não pensar. Mas vais amar sim. Quando passar irás voltar a amar. Porque é essa a nossa natureza. E porque amar faz bem. E desamar é como um processo de purificação e libertação que te prepara para próximas batalhas amorosas. Desamar é o passo de ligação necessário entre um amor e o outro.

Carlos Osvaldo
Maio 2011