Sunday, July 11, 2010




Lebron James- The Decision

“ Modestamente, a televisão não é culpavel de nada. É um espelhoem que todos olhamos, e ao olharmos nos refletimos...”. Martin Heidegger

Para o bem e para o mal, os Estados Unidos da América são um país especial. Só ali se pode elevar à dimensão de telenovela-reality show a decisão de Lebron James relativa ao seu novo clube.
Tão convencido estava eu que, em mês de Mundial nada mais iria assumir dimensão idêntica e lá vem uma invenção americana sacudir as minhas supostas certezas!
O suspense criado... a forma como foi gerida esta novela... a forma como conseguiram evitar qualquer fuga de informação... um verdadeiro case study. Um free agent que agitou o mundo dos amantes do basket da NBA com uma decisão tão individual que cada um de nós a sentiu como sua- de forma apaixonada.
Lebron James estava nos Cleveland Cavalliers desde que saiu da formação, há sete anos. Uma equipa na qual cresceu e que fez crescer. 60 vitórias na última temporada regular (apenas o melhor registo de todo o campeonato!), MVP pelo segundo ano consecutivo da temporada regular... e mais uma vez falharam o título. Ficou no ar a sensação de que teria que ser este o ano do título... ou nunca mais... e parece que vai prevalecer a segunda hipótese.
Dizem que a esperança é a última a morrer... mas quando morre é mais difícil ainda voltar.

Lebron soube, no dia em que foi eliminado, que não mais iria ganhar o título em Cleveland. Desde esse dia o seu futuro passaria por sair.
E o mercado de free agents estava particularmente atractivo este ano. Nomes como os de Kobie Bryant, Dwayne Wade, Lebron James, Dirk Nowitzki ou Bosh deixariam qualquer equipa de cabeça perdida, e, pouco a pouco, cada um foi organizando a sua vida, de forma relativamente discreta. Menos Lebron.

Começaram a surgir as propostas, cada uma com o seu atractivo:
New York Knicks- um mundo de infinitas possibilidades publicitárias, por estar em Nova Iorque, a “cidade que nunca dorme”. Desportivamente uma equipa sem grandes recursos no que diz respeito a uma luta realística pelo título.
Chicago Bulls- uma equipa jovem e talentosa. Promissora. Possibilidade de ser líder no anfiteatro do fantasma sagrado de Michael Jordan.
Cleveland Cavalliers- Berço. Ligação afectiva e dívida à promessa feita de não sair sem o título de campeão. Escolha entre continuar a ser amado ou passar a ser odiado. De ambas as formas eterno.
Miami Heat- Praia. Mercado atractivo a nível publicitário. Possibilidade de constituir uma das melhores duplas de sempre, junto a Dwayne Wade. Mas... menores possibilidades salariais no clube pela presença de Wade (de recordar que a NBA impõe tectos salariais).

Cenário montado. Um programa montado para o anúncio em directo. Autêntica novela publicitária. É a máquina mediática em movimento.

o mundo mudou. Pelo menos o desportivo. Mas já nada fica limitado a uma só área. As nossas sociedades são têm cada vez menos fronteiras. Tudo pode ser interligado pelo hífen do conhecimento (e dos média); pscicologica-social-economica-geográfica-desportiva-cultural-fisiologica-antropologica-cientifica-... MENTE...
Fascinou-me a vertente de marketing envolvida em tudo isto... é incrível como uma decisão pode mover um mundo. Vi-me acordado às 3h da manhã, na minha cama em Pemba, Moçambique com olhos sonolentos e atentos na CNN no Larry King Live show à espera do momento. Já não se tratava de Estados Unidos da América. Tratava-se de quem estar ligado à rede da informação que circulava. Eu estava tão conectado como um cidadão do Quénia ou uma criança do Paquistão que pudesse estar a ver o mesmo programa. A dimensão dos ícones de hoje é maior do que aquilo que possamos compreender. Só mais tarde se olhará para estes episódios com a verdadeira noção do seu peso simbólico.
Lebron James prendeu-me naquela decisão... cada um tinha o seu palpite. Sou cidadão do mundo, não mais porque visito o mundo, mas porque penso nele e me ligo a ele. Pela internet, pela televisão, por uma sms...

Miami Heat foi a decisão. Mais do que surpreendente foi excitante e gerou um entusiasmo imediato. Aquele anúncio converteu virtualmente Miami no principal candidato a roubar o título aos L.A. Lakers.
E o argumento apresentado, para além de correcto, foi coerente: vontade de ganhar. Juntando-se a Wade e Bosh, Lebron reconhece que teria de mudar de filosofia. Em vez de ser o heroi solitário e motor quase-único da equipa que teria de ser em Cleveland, Knicks ou Bulls (em menor escala) percebeu que aliando-se aos melhores poderia ser melhor. Faz sentido. Com com títulos no currículo engrandece a sua lenda. Em vez de um grande jogador poderá ser um grande campeão.
Na verdade, e do ponto de vista de marketing, que no fundo foi disso que se tratou- uma campanha publicitária- a decisão nunca poderia passar por permanecer em Cleveland. Se Lebron fosse renovar não faria sentido submeter os seus adeptos a toda a ansiedade e tortura de esperar a decisão no último minuto. Quem renova fá-lo discretamente, como Bryant ou Wade fizeram. Montar-se todo aquele aparato para anunciar que iria seguir na mesma equipa não faria sentido em termos publicitários. Uma campanha em grande preparava um anúncio de algo grande- uma equipa destinada a ser imortal.

Mas nem sempre os destinos se concretizam...

Carlos Osvaldo
Julho de 2010
Fama Vs Pornografia?

Caro Paulo Brabo,

Gostaria de começar este texto por elogiar o teu acto de coragem de assumires a paternidade do teu texto intitulado “Fama Vs Pornografia”. A internet é um veículo particularmente útil para difundir as nossas mensagens e muito conveniente para quem se quer refugiar no anonimato quando se expõe ou aborda temas polémicos. Por isso, Kudos para ti!

Outra coisa, e bem diferente, é concordar com as ideias expressadas por ti. O que não lhe retira interesse, bem pelo contrário. Não concordando com algumas das ideias expressas, achei que poderia ser igualmente interessante para ti ler a opinião de quem vê as coisas por um prisma diferente.

Começarei, pois, por clarificar que eu irei adoptar uma visão essencialmente intelectual do tema levantado. Quando leio que “a fama é o pecado....” sinto-me colocado contra a parede, pressionado por uma óptica religiosamente sufocante. A origem do pecado, como poderás investigar, é de natureza religiosa e tem muito que se lhe diga...

Para mim, o teu texto tem quatro temas pertinentes, interligados entre si. A saber:

Fama;
Pornografia;
Pecado;
Michael Jackson.

A ideia de pecado foi criada com sentido punitivo e censurador. É uma ideia carregada de valores morais e subjectivos. Não revejo a fama nestes parâmetros, muito sinceramente. Para mim, a fama é, como Jay Z definiu “a droga mais doce conhecida pelo Homem. Mais forte que heroína, que te faz olhar para o espelho perguntando ”. Para mim, fama é uma ilusão... um espelho de imagens distorcidas nos dois sentidos; do ídolo e do fã. Cria uma sensação de familiaridade que não existe e aproxima-os de uma forma irreal.

Pornografia... como seria fácil falar mal da pornografia! Tão fácil que não seria, de todo, estimulante. A pornografia surge como resposta às repressões que as sociedades modernas criaram. Foi a privacidade, associada ao individualismo quem deu origem a manifestações (sociais?) como a pornografia. Toda a civilização necessita de cultura para fazer sentido. E a civilização, como Freud bem disse, surgiu quando o Homem deixou de urinar em cima da fogueira e passou a fazê-lo dentro de casa. Antes tudo era visível. Eu via-te. Tu vias-me. A comer, a dormir, a olhar, a pensar, a chorar... e nas relações sexuais. Não havia o “eu” como motor da sociedade. Era um “eu” colectivo, no sentido de tribo X ou tribo Y.
Quando a tribo se subdivide em pequenos núcleos; as famílias, surge a diferença dentro de cada casa. As novas fronteiras (as paredes e os muros) aguçaram a curiosidade. “O que farão eles?” ou “como farão eles?”... essas as perguntas que passaram a assaltar as mentes. É neste contexto que a pornografia se torna uma inevitabilidade em resposta à curiosidade pelo que é alheio, agravada pelo facto de a ideia de pecado se ter misturado pelo meio. Se o que não vemos já desperta curiosidade, quando se mete o proibido pelo meio fica ainda mais perigosamente apetecível.

Michael Jackson é um artista. É, não foi. É porque ganhou o direito à imortalidade. Um espírito iluminado que não soube (ou não quis!) separar a vida da arte. Todo ele viveu a sua criação artística, o que tende a ser destrutivo. Tudo o que foge à “normalidade” ditada pela sociedade tende a ser afastado. E a normalidade é um conceito associado à prática da maioria.

Não posso, contudo, aceitar que nos seja imputada a responsabilidade do seu fim (físico)... não! Não fui eu, nem tu... nem qualquer dos seus fãs legítimos quem o conduziu a esse destino. Não foi o nosso amor que o levou a perder-se.

Como disse Paulo Coelho, “no amor, ninguém pode magoar ninguém; cada um de nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos culpar o outro por isso.”

Obrigado por me teres dado um pretexto para escrever!

Saudações literárias,

Carlos Osvaldo
01/07/2010

carlososvaldo86@hotmail.com