Sunday, February 27, 2011

Ronaldo- O fim de um fenómeno. Princípio de um mito.



Ronaldo Luiz Nazário de Lima anunciou o final da sua carreira como jogador de futebol profissional no passado dia 14 de Fevereiro de 2011.
Tive, de imediato, um impulso para escrever este artigo em sua homenagem, mas resolvi esperar um pouco. Deixar que as emoções acalmassem um pouco e fazer um balanço sobre o que significou para… o futebol? Não! Para mim, ao longo desta década e meia desde que me conquistou em 1996.
Um artigo como este será sempre pessoal. Tento apenas que não seja masturbatório, pois isso seria um prazer individual.

Ronaldo começou a jogar profissionalmente no Cruzeiro de Belo Horizonte com 16 anos. No ano de estreia fez uma época absolutamente arrasadora com destaque a um jogo em que marcou 5 golos. A estreia na selecção brasileira já se adivinhava. 17 anos.



De seguida é contratado pelo PSV Eindhoven. Forma com Luc Nilis uma dupla das melhores que teve na sua carreira. Cresceu a nível físico e tornou-se um homem nesse ano em que viveu o seu ano de estreia na Europa. Carlos Alberto Parreira decide-se a levá-lo para o Mundial de 1994 nos EUA. Não havia argumentos para o deixar de fora. No mundial em que o ataque brasileiro era composto pela dupla Bebeto- Romário, o Brasil é campeão frente à Itália do grande Roberto Baggio (outro dos meus heróis futebolísticos). Ronaldo não chega a disputar qualquer minuto na prova (para não quebrar o recorde do Rei Péle) mas sagra-se campeão do mundo.





PSV já era demasiado pequeno para segurar este jogador que ameaçava ser a maior sensação desde Maradona. Quando o Barcelona o contrata, na temporada 1996/1997, chega como uma promessa exótica. Era a equipa do Bobby Robson, e Barcelona vivia o trauma pós dream team de Cruyiff. Nessa equipa do Barcelona estavam jogadores como: Figo, Guardiola, De la Peña, Stoichkov, Luis Enrique, Giovanni, Popescu, entre outros. Aquela época fica para a história da sua carreira.



Eu acompanho as últimas duas décadas do futebol e posso afirmar que não houve neste período nenhum jogador que fizesse uma época como aquela. Nunca vi algo igual, nem antes nem depois. Esse é o meu Ronaldo. O melhor jogador que eu alguma vez vi actuar. 47 golos em 49 jogos! Ganhou Taça das Taças, Taça do Rei e Supertaça Espanhola. Todos os títulos em disputa menos a Liga Espanhola.
Fácil é recordar o golo frente ao Compostela, ou os golos frente ao Valência. Eu gravo uma imagem romântica de uma jogada fabulosa, daquelas arrancadas que fazia em que, já na área, sofre uma falta de um dos defesas e, com aquela vontade inocente de jogar futebol, insiste em não cair, em não desistir da sua jogada; do golo que tinha na sua mente. Acabou falhando. Bobby Robson levanta-se do banco, desesperado. Queria que tivesse caído. Mas aquele era o Ronaldo mais puro! Falhou e sorriu… era apenas um jogo!

Depois vieram os prémios e a incapacidade do Barcelona para o segurar. O Inter de Milão foi o seu destino. E aí começaram as lesões. Aí começou a carreira de outro Ronaldo. Como Luís Freitas Lobo escreveu, e bem, depois de disputar um lugar entre os melhores da história, passou a disputar um lugar entre os melhores da sua geração. Milão só trouxe sofrimento a Ronaldo, tanto no Inter como no AC Milan, depois. Foi a sua cidade maldita!




Pelo meio houve o milagre do campeonato do mundo de 1998 em que uma mal explicada “convulsão” impediu que jogasse ao seu melhor nível na final. Zidane e a sua França saíram vencedores por claros 3-0. Em 2002, depois de milagrosamente recuperado de uma lesão ao joelho, marcou 8 golos na prova, sagrando-se melhor marcador e campeão do mundo frente à Alemanha. Em 2006 ainda apareceu para gravar o seu nome para a história como o melhor marcador de sempre dos campeonatos do mundo, batendo o recorde de Just Fontaine que marcara 13 golos numa só edição. Ronaldo tem 14 em mundiais.



A passagem pelo Real Madrid dos galácticos foi uma aventura que começou colorida e acabou sorridente. Ronaldo jogava num ataque de outro mundo com Raúl, Roberto Carlos, Figo, Zidane e Beckham! Essa equipa inspirada era um espectáculo irresistível, mesmo para um adepto do Barcelona, como eu sou.



O retiro em Corinthians ainda lhe deu para ganhar o campeonato paulista e a Taça do Brasil. Ainda deixou apontamentos de classe.



Mas… o seu corpo venceu! As lesões e o peso acabaram com a sua carreira. A sua “primeira morte”, como descreveu.

Mas Ronaldo, por mais mortes que tenha será sempre imortal. Fica gravado como um dos melhores de sempre. Para mim, o melhor avançado que vi jogar (em Barcelona) e um dos meus pontas de lança preferidos.



No auge, era um jogador em puro estado de genialidade. Tinha força, técnica, velocidade e potência, frieza frente à baliza, noção de espectáculo, jogava com ambas as pernas e tudo isso com um sorriso de menino. Celebrando em Barcelona com os braços abertos- toda uma imagem de marca.
Quando brilha em Barcelona o futebol estava precisando de brilho e cor. Foi este o redespertar dos grandes tempos. A Liga Espanhola voltou a ganhar alegria. O Barcelona também e o grande Madrid da altura, com um ataque de Raúl, Suker e Mijatovic, contando com Roberto Carlos, Seedorf, Redondo, Hierro e Capello como treinador teve que se manter sempre por alto. Foi depois dele que o futebol voltou a ser feliz.

Como já celebrei noutro artigo, creio que hoje vivemos uma das eras mais felizes deste desporto e o seu início, pelo menos para mim, deve-se à explosão deste fenómeno. Um mito… um jogador que saltou dos relvados e foi alegre mesmo sofrendo. Cometeu erros e excessos. Não foi perfeito mas foi o mais próximo da perfeição que um jogador de futebol pode ser. Por pouco tempo? Claro! A perfeição, quando aparece, é como um lampejo. Breve e fugaz. Violenta e inesquecível.



Sei que vai continuar feliz. Tem o mundo a seus pés. Eu tenho as minhas memórias e os vídeos que guardarei religiosamente. Daqui a 40 anos ainda dele falarei aos meus filhos e quero poder mostrar esses vídeos de um menino que nos fez feliz com uma bola nos pés.

Carlos Osvaldo

Saturday, February 19, 2011

DESacordo Ortográfico

Que fique claro para todos os leitores deste blog que todos os textos aqui publicados se encontram ao abrigo do DESacordo Ortográfico.
Escrevo no português que aprendi em criança. É essa a língua com a qual me identifico. Recordo-me de quando comecei a pesquisar na internet materiais em língua portuguesa e me chamavam a atenção que os textos brasileiros tinham um português adaptado e incorrecto para o uso que eu deveria seguir. E eu, neste aspecto, serei teimoso e conservador até não mais poder. Talvez quando tenha filhos e tenha de os ensinar a ler e escrever neste brasilês tenha de re-aprender para poder ensinar. Mas, até lá, e enquanto depender de mim continuarei fiel à forma como entendo e sinto a língua.





Assim, continuarei a escrever:

Egipto, em vez de Egito;
De facto, em vez de de fato;
Direcção em vez de direcão;
Actor em vez de ator;
Pêlo (de pelugem) em vez de pelo;
E tantos outros casos….

Aliás, este acordo só me entristece pelo sintoma de facilitismo a que nos estamos a entregar cada vez de forma mais frequente. Não fui nunca dos que contestavam pelo facto dos brasileiros terem adoptado a língua portuguesa à sua realidade. Pelo contrário, acho que as línguas devem ajustar-se às realidades em que estão inseridas. Mas, daí a haver este acordo comum vai uma enorme diferença. Como puderam os portugueses ceder ou aceitar este acordo? Não há maior sinal de cultura que a língua de um povo, na minha opinião. E a língua que eu aprendi faz parte da pessoa que eu sou. E isso não muda por qualquer acordo que os “intelectuais” da minha língua.

Obrigado pela compreensão.

Carlos Osvaldo