Sunday, July 11, 2010

Fama Vs Pornografia?

Caro Paulo Brabo,

Gostaria de começar este texto por elogiar o teu acto de coragem de assumires a paternidade do teu texto intitulado “Fama Vs Pornografia”. A internet é um veículo particularmente útil para difundir as nossas mensagens e muito conveniente para quem se quer refugiar no anonimato quando se expõe ou aborda temas polémicos. Por isso, Kudos para ti!

Outra coisa, e bem diferente, é concordar com as ideias expressadas por ti. O que não lhe retira interesse, bem pelo contrário. Não concordando com algumas das ideias expressas, achei que poderia ser igualmente interessante para ti ler a opinião de quem vê as coisas por um prisma diferente.

Começarei, pois, por clarificar que eu irei adoptar uma visão essencialmente intelectual do tema levantado. Quando leio que “a fama é o pecado....” sinto-me colocado contra a parede, pressionado por uma óptica religiosamente sufocante. A origem do pecado, como poderás investigar, é de natureza religiosa e tem muito que se lhe diga...

Para mim, o teu texto tem quatro temas pertinentes, interligados entre si. A saber:

Fama;
Pornografia;
Pecado;
Michael Jackson.

A ideia de pecado foi criada com sentido punitivo e censurador. É uma ideia carregada de valores morais e subjectivos. Não revejo a fama nestes parâmetros, muito sinceramente. Para mim, a fama é, como Jay Z definiu “a droga mais doce conhecida pelo Homem. Mais forte que heroína, que te faz olhar para o espelho perguntando ”. Para mim, fama é uma ilusão... um espelho de imagens distorcidas nos dois sentidos; do ídolo e do fã. Cria uma sensação de familiaridade que não existe e aproxima-os de uma forma irreal.

Pornografia... como seria fácil falar mal da pornografia! Tão fácil que não seria, de todo, estimulante. A pornografia surge como resposta às repressões que as sociedades modernas criaram. Foi a privacidade, associada ao individualismo quem deu origem a manifestações (sociais?) como a pornografia. Toda a civilização necessita de cultura para fazer sentido. E a civilização, como Freud bem disse, surgiu quando o Homem deixou de urinar em cima da fogueira e passou a fazê-lo dentro de casa. Antes tudo era visível. Eu via-te. Tu vias-me. A comer, a dormir, a olhar, a pensar, a chorar... e nas relações sexuais. Não havia o “eu” como motor da sociedade. Era um “eu” colectivo, no sentido de tribo X ou tribo Y.
Quando a tribo se subdivide em pequenos núcleos; as famílias, surge a diferença dentro de cada casa. As novas fronteiras (as paredes e os muros) aguçaram a curiosidade. “O que farão eles?” ou “como farão eles?”... essas as perguntas que passaram a assaltar as mentes. É neste contexto que a pornografia se torna uma inevitabilidade em resposta à curiosidade pelo que é alheio, agravada pelo facto de a ideia de pecado se ter misturado pelo meio. Se o que não vemos já desperta curiosidade, quando se mete o proibido pelo meio fica ainda mais perigosamente apetecível.

Michael Jackson é um artista. É, não foi. É porque ganhou o direito à imortalidade. Um espírito iluminado que não soube (ou não quis!) separar a vida da arte. Todo ele viveu a sua criação artística, o que tende a ser destrutivo. Tudo o que foge à “normalidade” ditada pela sociedade tende a ser afastado. E a normalidade é um conceito associado à prática da maioria.

Não posso, contudo, aceitar que nos seja imputada a responsabilidade do seu fim (físico)... não! Não fui eu, nem tu... nem qualquer dos seus fãs legítimos quem o conduziu a esse destino. Não foi o nosso amor que o levou a perder-se.

Como disse Paulo Coelho, “no amor, ninguém pode magoar ninguém; cada um de nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos culpar o outro por isso.”

Obrigado por me teres dado um pretexto para escrever!

Saudações literárias,

Carlos Osvaldo
01/07/2010

carlososvaldo86@hotmail.com

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