Saturday, January 30, 2010

HOMOSSEXUALIDADE VS BICHICE

A homossexualidade é, ainda, e teimosamente, encarada com desconfiança. Mesmo após demonstrações científicas que provam de forma indubitável que não se trata de nenhuma doença ou anomalia, este fenómeno continua a ser visto como algo abominável, por larga camada da sociedade.
Creio que muito disto se deve a um fenómeno recentemente associado pelo senso-comum à homossexualidade: a bichice.

A homossexualidade é, enquanto tal, algo perfeitamente aceitável e respeitável. É uma forma de viver a sexualidade. Uma atracção por pessoas do próprio sexo. Tão inofensiva e aceitável, a meu ver, como a heterossexualidade ou a bissexualidade.
Na verdade, e faço aqui um parêntesis curto para dizer que, eu defendo uma teoria: nós somos todos biologicamente bissexuais. A nossa vivência, as experiências a que estamos sujeitos é que fazem com que nos inclinemos mais para um lado ou para o outro na balança sexual.

A relação homossexual sempre existiu e sempre existirá, quer queiramos ou não aceitá-la. É uma realidade incontornável, e quanto mais cedo a aceitarmos melhor será para a aprendermos a suportar sem custo. Os próprios animais também manifestam esta tendência comportamental.
É apenas uma forma de amor diferente da maioria. Ser diferente tem que parar de ser visto como ser doente.

O que é aquilo que eu defino como bichice? A bichice é o movimento que deu origem às bichas. As bichas são os homens que tentam ser mulheres e as mulheres que tentam ser homens.
Todos sabemos do que falo. Aqueles homens que agem como se fossem mulheres. Que afinam a voz para aproximar o seu tom do feminino. As mulheres que colocam roupas de homem e cortam o cabelo curtíssimo para se parecerem mais com homens.
Os tiques que uns e outros adoptam para se fazerem passar por algo que não são.
Para mim, este tipo de atitudes não dignificam, nem facilitam em nada a compreensão da naturalidade da homossexualidade. Pelo contrário, este fenómeno abichanado provoca apenas uma onde de repúdio e revolta. De facto, uma bicha é alguém que não se encaixa em nenhum dos sexos. Não se adequa aos moldes de homens e mulheres. É um intervalo sexual que se manifesta pelo vazio de sentido e de coerência. São produtos carnavalescos à procura de uma identidade que tentam mostrar sem ter. É confrangedor para mim ver bichas a agir, todas seguras de si, como se fossem seres especiais e mais inteligentes que os outros, gabando-se, tantas vezes, de serem mais sensíveis, mais delicados, com sentidos mais apurados e mais completos, por terem (ao que dizem...) características de ambos os lados da balança sexual.

Foram as bichas que criaram o chamado “Orgulho Gay”. Carnavais como as Gay Parade são inventadas como formas de libertação e demonstração de coragem e grito de revolta contra a repressão.

Eu, pela minha natureza, desconfio sempre de emoções colectivas. E desconfio igualmente de tudo o que seja necessário demonstrar aos outros.

Eu estou perfeitamente seguro em relação à minha sexualidade (heterossexualidade) e não sinto necessidade de andar a gritar a todo o mundo “Olhem, sou heterossexual e tenho muito orgulho nisso!”. Para quê? Não há necessidade de o fazer porque não ganharia nada com esse gesto. A minha própria convicção chega para estar bem na minha própria pele e natureza sexual. Não existe o “Orgulho Hetero” por algum motivo. Não há necessidade de aprovação, nem de manifestação da natureza heterossexual para que haja aceitação.

Acho que é necessário que as próprias bichas se aceitem plenamente. Quando, de facto, o fizerem, perceberão que não necessitam de mostrar nada a ninguém, nem de provar nada a quem quer que seja. Eu percebo a natureza dessas manifestações (como forma de libertação e assunção) e até o contexto social em que surgem (como resposta a agressões e preconceitos imbecis), mas muito sinceramente eu continuo a dizer o que sempre achei: responder a algo é sempre estar preso à pergunta inicial ou, neste caso, à agressão inicial. Se há necessidade de responder, é porque a ofensa ainda nos atinge e afecta. Há que saber contornar essas agressões, através de uma atitude mais sábia, no sentido de ser capaz de aprender a destrinçar o que é importante e relevante do que é supérfluo.

O mais importante é cada um sentir-se bem na sua própria pele. Estar bem consigo próprio. Conhecer-se e saber o que quer e precisa para ser um ser humano completo.

Bichas ou não bichas...pouco importa. O que mais se precisa é auto-conhecimento e amor próprio. Quem vive em função dos outros é um escravo dos outros. Libertar-se é não se importar com o que os outros pensam de nós, conquanto que estejamos bem connosco próprios.

Lamento que cada vez mais se associe a luta pelo respeito dos direitos dos homossexuais à causa bichice, que nada mais faz do que procurar chocar e causar um folclore. Um espectáculo fortuito e barato.

Assim não vamos lá...a homossexualidade está longe de ser aceite e compreendida, pois o maior inimigo está infiltrado em si, nas suas teias e meandros, agindo secretamente em seu nome, como se fosse um embaixador clandestino.

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