Saturday, January 30, 2010

NSH

Neuropatia Sensorial Hereditária.

Quantos de vós estão familiarizados com esta terminologia? Neuropatia Sensorial Hereditária é uma doença. Consiste numa alteração genética que nos inibe de sentir dor.
À primeira vista, surge a interrogação: porquê chamá-la de doença então, se a dor é algo do qual todos nos queremos libertar ou, pelo menos, evitar, tanto quanto possível?

Ora, por mais surpreendente que possa parecer, até mesmo a dor desempenha um importante papel, no belo e perfeito conjunto que é o corpo humano.
Disse Sir Isaac Newton que, “na ausência de outras provas, o meu polegar bastaria para me provar a existência de Deus.”
Na realidade, cada vez mais me convenço que o corpo humano é um complexo conjunto perfeitamente equilibrado, com uma funcionalidade perfeitamente adaptada e ajustada para as suas necessidades.

Mas, não nos afastemos da dor.

A ausência de dor...quais os malefícios que dela advêm? Por que motivo considerar a sua falta motivo para uma classificação patológica? Não é esta uma das características dos super-heróis que habitam os nossos imaginários colectivos? Seres fortes, indolores, com tudo o que o Homem tem de bom e sem fraquezas quase nenhumas? Não sentir dor não deveria ser uma vantagem?

Quem é vítima de N.S.H sofre de violentas privações, manifestadas desde a primeira infância. Ainda bebés, a ausência de dores pode resultar em queimaduras ou lesões causadas por uma falta de resposta do organismo a certas agressões externas. A dor funciona como uma campainha para nos avisar de perigos iminentes. Quando essa campainha não funciona, estamos debilitados, frágeis e expostos.
Na altura em que o bebé vítima de N.S.H começa a andar, surge a natural descoberta do mundo que o rodeia. Mas, ele não tem esse inibidor tão protector que é a dor. Pode sofrer quedas; dar pancadas em armários, portas, cair de escadas, ou outras situações de risco que não sente nada. Desse modo, enquanto que uma criança sujeita à dor, aprende com a queda que não deve repetir o comportamento que conduziu esse sofrimento, ainda que momentâneo, evolui e se desenvolve de uma forma sustentada, uma criança desprovida destes alertas não o faz. Pode repetir inúmeras vezes tais comportamentos sem se aperceber dos perigos em que incorre. Apesar de não sentir dor, pode e muitas vezes, provoca, mesmo lesões internas, muitas vezes irremediáveis.

Há, igualmente, casos em que os doentes se auto-mutilam. Através de mordeduras ou pancadas, o doente, geralmente criança ou bebé, brinca com o seu próprio corpo. Muitas vezes fascinado com o aparecimento de sangue ou feridas, ele prossegue numa auto-destruição inconsciente.

Mas há também perigos externos; ameaças mais difíceis de controlar e prever. O sol, por exemplo. O nosso corpo reage ao calor através da transpiração. Um portador de N.S.H não transpira. O calor acumula-se em si de forma perigosa e destrutiva, sem que disso se aperceba. Graves casos de desidratação se verificam.

Este acumular de factores de risco conduzem, muitas vezes à morte.

Ainda sem cura, a N.S.H é apenas tratada através de um acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Os médicos procuram essencialmente fazer com que os pacientes aprendam a lidar com a ausência de dor de uma forma mais saudável e natural. Mas os casos de sucesso são, ainda, muito limitados.
A dor desempenha um papel demasiado importante para poder ser facilmente desprezada.

Apesar de não ser uma doença que atinja um número significativo de pessoas, é, sem dúvida, uma patologia interessante, na sua génese. Faz-nos pensar que, afinal, talvez a dor não seja tão má e desprezível quanto pensávamos.

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