Saturday, January 30, 2010

O RACISMO

Li, em “A metafísica do Amor”, de Schopenhauer uma interessante teoria. O autor defendia que todo o homem branco é um homem falho de cor. E explicava, em seguida, o seu ponto de vista: argumentava que o ser humano é originário de África (creio haver, hoje em dia provas científicas de que esta assunção é verdadeira) e, por conseguinte, a raça negra é a “raça-mãe” da humanidade. Com as deslocações nómadas, o Homem foi descobrindo novas terras; novos mundos, com diferentes aspectos geográficos, quer em termos de fauna ou flora, assim como diferentes condições climatéricas. Em geral, as deslocações eram feitas no sentido Norte onde o clima tende a ser mais frio, com dias mais curtos.
O corpo humano tem extraordinárias capacidades de adaptação a diferentes condições externas. Assim, começaram a surgir “novos Homens”, com cabelo diferente, pele e olhos mais claros e com outras características diferentes e específicas a cada nova raça. Desde o Homem negro da África sub-sahariana, foram surgindo os Homens do norte de África, com tez mais clara, cabelo e traços mais finos. Em seguida, veio o Homem do Médio-Oriente, com ligeiras semelhanças físicas aos do norte de África. Surgem depois os Homens do Extremo-Oriente, com os traços que designamos usualmente como asiáticos, os Homens europeus, os Índios. Os ciganos são, segundo Schopenhauer, uma raça que surgiu mais recentemente, das viagens dos homens do Médio-Oriente para a Europa, apresentando-se, de certa forma, com características intermédias às duas raças anteriores. Interessante, esta análise à evolução do ser humano, enquanto raça. Mas, mais importante ainda, é que deixa claro que há apenas uma raça no ser humano: a Humanidade. Tudo o mais são ligeiras transformações; são reacções do nosso organismo que ao longo dos tempos forma dando origem a diferenças, primeiro superficiais e ligeiras e mais tarde cada vez mais profundas e visíveis a que chamamos, como forma de diferenciação, de raças. É como a evolução que se verifica num a família. Os filhos vão nascendo, sempre ligados por laços biológicos e físicos aos seus ascendentes, mas com diferenças resultantes da mistura de que foram resultado. São sempre fruto de uma combinação entre dois canais genéticos distintos. São diferentes, mas sempre iguais a ambos. Nem melhores, nem superiores; apenas diferentes.
Descendemos todos do mesmo ramo; temos todos a mesma origem. De forma mais ou menos directa, viemos todos do mesmo. Há um laço comum que nos une e que faz de nós uma família biológica.
Utilizar estas diferenças como elemento justificador de qualquer forma de tratamento entre as diferenças rácicas é de uma profunda ignorância. E, mesmo assim, quem pode dizer, de forma absoluta e convicta que não é racista? É incrível a capacidade que o Homem tem para cometer erros, mesmo quando tem consciência da sua presença e existência. Somos conduzidos pelo nosso lado animal e o mais que podemos fazer é ter a consciência disso. Alterá-lo é de uma dificuldade extrema. No máximo podemos conhecer-nos e compreendermo-nos. Mudar quem somos é, na prática, tarefa quase impossível. Não teremos uma identificação racial incrustada em nós? Quer seja através da educação, da socialização a que estamos sujeitos ou através de outros factores externos, não estaremos sempre ligados aos que são mais parecidos connosco? E não será isto tão natural como beber água, respirar ou procurar procriar?
Como evitar, então, que este aspecto se torne nocivo?
Haverá algum meio de evitar que os nossos olhos vejam cores e diferenças entre nós e fazê-los ver apenas o interior, onde somos iguais?
Não creio. Mas também, duvido que tal fosse positivo. Negar as nossas diferenças seria apenas uma forma de as fomentar. De as amplificar e fomentar os seus malefícios.
Só através de uma educação para a pluralidade podemos ultrapassar o medo que todos temos a tudo quanto é diferente. Só a cultura poderá libertar as nossas mentes do mundo de preconceitos em que vivem subjugadas.
“Ser culto é a única forma de ser livre.”
Se soubermos aceitar o diferente como próximo e não distante enriqueceremos grandiosamente, enquanto espécie. Aceitamos com facilidade as diferenças de sexo, de alturas, de peso, de olhos..por que será tão difícil impedir que as diferenças de cor se constituam como problema?
Quem sabe se um dia não poderemos aprender a conviver de uma forma mais rica e plena. Nesse momento (não muito distante, espero) poderemos, enfim compreender que a variedade é o sal da vida. Que a pluralidade é uma forma de riqueza e grandeza. Que ser diferente é bom. Original.
Mia Couto colocou num dos diálogos de um dos seus livros, “Terra Sonâmbula”, se não me engano, algo como isto:
“- Eu não gosto de preto?
- De monhés, então?
- Também não.
- De brancos?
- Não!
- Então?!
- Eu gosto de pessoas que não têm raça.”
Não sei precisar com exactidão se era desta forma que decorria a animada conversa entre dois amigos, mas a ideia era esta. Que as pessoas de quem se deve gostar mais são as pessoas sem raça. Dito de outra forma, as pessoas que têm todas as raças. Não se mutilam nesta ou naquela raça. Incorporam-se na mais importante de todas: a Humanidade.

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