Saturday, January 30, 2010

O NASCIMENTO

Nascimento. Origem. Princípio.
São estes alguns dos sinónimos que encontrei presentes no dicionário, quando pesquisei, em busca de um começo para este pequeno texto. Julguei que fosse encontrar neles alguma iluminação misteriosa, metafísica e sobrenatural que me inspirasse numa forma de dar o mote para este desafio tão..hum..digamos, no mínimo, interessante. Sucedeu, porém, algo inesperado, aquando da minha pesquisa. Ao ler de forma atenta e cuidadosa a definição de Nascimento, ocorreu-me que, na verdade, quando penso na ideia de Nascimento, outra palavra tão (aparentemente) afastada me surge: Esperança. Pergunto, por isso, haverá melhor sinónimo de Esperança que Nascimento?
Nascer é, nada mais, nada menos, que transpor uma porta simbólica da, e para a, vida. É ser-se novo. É ser-se puro, imaculado. De certa forma, é ser-se livre, também, pois nascemos sempre libertos das correias mentais a que mais tarde nos acabaremos, invariavelmente, por prender, de forma fatal e inconsciente, para que, em certa altura da vida nos tentemos delas libertar, muitas vezes sem sucesso. Só no momento que simboliza a existência somos, e estamos, total e completamente livres. Como uma folha em branco, onde se poderão escrever e criar belas e magicas obras ou, pelo contrario, inúteis e banais palavras iguais a tantas outras.
Penso na ideia de Nascimento como o momento em que o presente se assume como um futuro. Um futuro virgem. Um futuro repleto de sonhos e desejos. Como o silencio que antecede uma bela musica, ou, melhor ainda, como o silencio que segue a uma bela musica.
Nascer é abrir as portas do tempo. Desafiar as leis da previsibilidade. Sermos agentes do Nascimento é sermos deuses. É essa a lição que todos eles nos tentaram dar: dizer-nos, através do seu exemplo, que a criação é a forma de sobrevivência e imortalidade. Seja através de uma criança, de uma obra, de um feito, todo aquele que dá origem a algo, isto é, todo aquele que faz nascer, se imortaliza através do ser ou objecto a que deu origem. Essa é a chave da imortalidade..do segredo para que o tempo cesse de passar como motor das nossas vidas físicas e mentais.
Será, pergunto então, o fazer nascer um gesto de egoísmo ou altruísmo? Procuraremos a nossa própria continuidade através de algo, ou alguém, ou fá-lo-emos de forma a enriquecer e engrandecer o mundo em que vivemos? Talvez um pouco de ambas as coisas, suspeito. Talvez sejamos apenas meros instrumentos do nosso biológico, que nos move irremediável e incontrolavelmente para a procriação, para a continuidade. Só assim pode existir vida.
Aliás, nascer é a própria vida, no fundo. Bem ou mal vivida, só existe vida se existiu antes Nascimento. Haverá, pois, momento mais importante na vida? Parece-me claro que não. Só esse instante em que as nossas mentes são invadidas por sonhos, por projectos, desejos, ambições, imagens projectadas de glorias futuras que apaguem os erros e fracassos de um passado que esperamos sempre inferior ao futuro, ao que aí vem, através do nascer que se nos apresenta. Sim, esse momento é o próprio Nascimento! Não é esta a sensação que nos invade em cada mudança de ano, ou em cada aniversario, ou em cada criança que nasce? Não são esses os momentos em que reflectimos, analisamos e projectamos as nossas vidas de forma diferente? Por que será? Creio que é nesses instantes que sentimos em nós um renascer simbólico. Um recomeço. Uma nova oportunidade para tudo. Corrigir e fazer. Criar e planificar. Renascer é, por definição, “o momento em que se volta a nascer”. Não tendo, por não ser possível, o carácter definitivo do Nascimento, por este ser único, é, porém, um recordar da importância desse momento tão marcante e definidor das nossas vidas. Como um pequeno sinal para que não nos esqueçamos de algo realmente importante. Um aviso à nossa memória emocional.
Disse Sir Isaac Newton: “Na ausência de outras provas, o meu polegar apenas convencer-me-ia da existência de Deus.” Pegando na ideia presente na frase de Sir Newton, dou por mim a pensar para comigo mesmo se haverá maior e mais belo milagre da natureza humana que a imagem de uma mulher grávida? Não será essa a própria imagem de Nascimento? De vida? De perfeição? De atemporalidade (onde passado-presente-futuro se conjugam num só)?

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